O aspecto do irmão e a proximidade da morte fizeram ressurgir, na alma de Liévin, aquele sentimento de horror diante do indecifrável, e também da proximidade e da inevitabilidade da morte, que o dominara naquela noite de outono, em que o irmão viera à sua casa. Tal sentimento era agora ainda mais forte do que antes; sentia-se ainda menos capaz do que antes de entender o sentido da morte e lhe parecia ainda mais horrorosa a sua inevitabilidade; mas agora, graças à proximidade da esposa, esse sentimento não o levava ao desespero: apesar da morte, ele sentia a necessidade de viver e de amar. Sentia que o amor o salvara do desespero e que esse amor, sob a ameaça do desespero, se tornava ainda mais forte e mais puro.
O mistério da morte mal tivera tempo de se desvendar diante de seus olhos, permanecendo indecifrável, quando irrompeu um outro, igualmente indecifrável, que o impelia a amar e a viver.
O médico confirmou sus suspeitas a respeito de Kitty. Seu mal-estar era a gravidez.
(Anna Kariênina, Liev TOSTÓI, Trad. Rubens Figueiredo, São Paulo: Cosacnaify, 2013, pp. 495 e 496).
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