Balança & Espada

"A justiça tem numa das mãos a balança em que pesa o direito, e na outra a espada de que se serve para o defender. A espada sem a balança é a força bruta; a balança sem a espada é a impotência do direito" (JHERING)



Jurisprudência

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

ANNA KARIÊNINA - I

(...) Toda vez que Vrónski falava com Anna, inflamava-se nos olhos dela um brilho de contentamento, e um sorriso de felicidade arqueava seus lábios rosados. Anna parecia fazer um esforço contra si mesma para não demonstrar esses sintomas de contentamento, mas eles sobressaíam, por si mesmos, em seu rosto. "Mas e quanto a ele?" Kitty observou Vrónski e horrorizou-se. Aquilo que Kitty pressentira tão claramente no espelho do rosto de Anna, reconheceu em Vrónski. O que havia acontecido com a sua maneira sempre calma e firme e com a expressão serena e despreocupada do seu rosto? Não, agora, toda vez que ele se voltava para Anna, curvava um pouco a cabeça, como se quisesse atirar-se diante dela, e no olhar de Vrónski só havia uma expressão de submissão  e de temor. "Não desejo ofendê-la", parecia dizer o seu olhar, a cada instante, "mas quero salvar-me, e não sei como". Em seu rosto, havia uma expressão que Kitty jamais vira".

Anna sorria, e seu sorriso contagiava Vrónski. Ela se punha pensativa, e ele se fazia sério. Alguma força sobrenatural atraía os olhos de Kitty na direção do rosto de Anna. Ela estava encantadora em seu simples vestido preto, eram encantadores seus fornidos braços com braceletes, era encantador o seu pescoço firme com o cordão de pérolas, encantadores os cabelos encaracolados com o penteado em desalinho, encantadores os movimentos leves e graciosos dos pequeninos pés e mãos, encantador o belo rosto com sua vivacidade; mas havia algo de horrível e de cruel no seu encanto.

(Anna Kariênina, Liev TOSTÓI, Trad. Rubens Figueiredo, São Paulo: Cosacnaify, 2013, pp. 91, 92 e 93).







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