Balança & Espada

"A justiça tem numa das mãos a balança em que pesa o direito, e na outra a espada de que se serve para o defender. A espada sem a balança é a força bruta; a balança sem a espada é a impotência do direito" (JHERING)



Jurisprudência

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

ANNA KARIÊNINA - II

— Eu não sabia que o senhor ia viajar. Por que viaja? — perguntou Anna, depois de baixar a mão, com que quase havia segurado o balaústre. E uma alegria e um entusiamo irresistíveis brilharam em seu rosto.
— Por que viajo? — repetiu ele, fitando-a nos olhos. — A senhora sabe, eu viajo para poder estar onde a senhora estiver — disse. — Não posse agir de outro modo.
Nesse exato momento, como se estivesse vencido um obstáculo, o vento dispersou em borrifos a neve que estava depositada sobre os vagões, fez trepidar alguma chapa de ferro solta e a locomotiva, lá na frente, pôs-se a bramir o apito penetrante, de um modo lúgubre e tristonho. Para Anna, todo o horror da nevasca parecia, agora, ainda mais belo. Vrónski falara exatamente  o que a alma de Anna desejava, mas que sua razão temia. Ela nada respondeu e, em seu rosto, Vrónski viu um conflito.
— Perdoe-me, se o que eu disse não lhe agrada — disse ele, em tom submisso. Falava com cortesia e respeito, mas de um modo tão firme e tenaz que ela, por um  longo tempo, nada conseguiu responder.
— Não está certo o que o senhor disse e eu lhe peço, ser for um homem correto, que esqueça o que acabou de falar, como eu vou esquecer — respondeu, afinal.
— Não posso e nunca esquecerei uma palavra da senhora, nem um movimento da senhora...

(Anna Kariênina, Liev TOSTÓI, Trad. Rubens Figueiredo, São Paulo: Cosacnaify, 2013, p. 111 e 112).



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