Não é só a religião que conforta depois da morte. Não é só o acreditar no além e na existência de vida após a morte que nos faz aceitar as consequências funestas do crime de homicídio.
A Justiça também conforta, como o caso de Isabella Nardoni fez lembrar.
Descoberto o crime e vindo a público a morte cruel da menina, criou-se na sociedade um sentimento de revolta, uma necessidade de apuração da verdade e de imputação da responsabilidade penal aos culpados.
Logo em seguida, porém, um sentimento de insegurança quanto à punibilidade foi despertado, em razão de algumas decisões nebulosas do Estado-juiz, supostamente técnicas.
Uma preocupação muito grande assolou a imaginação social e gerou desconforto, insatisfação, angústia e medo, até o ponto de reavivar a descrença geral nas instituições.
Reforçou essa ansiedade o histórico de impunidade no País.
Pode-se dizer que a preocupação despertada em cada um decorreu do fato de estarem em jogo os mais altos valores da sociedade, quais sejam, a maternidade, a proteção da vida, a segurança, a liberdade e até mesmo a Justiça.
Uma apreensão coletiva e um estado incessante de inquietação tornaram-se um caroço preso na garganta de todos, suficientemente grande para sufocar, sem ser engolido, ou expelido, para alívio geral.
Dois anos depois, a Justiça ergue sua balança.
Coloca nos pratos os valores lesados e indisponíveis.
Verifica o desequilíbrio, toma conhecimento dos fatos, sopesa-os, e, em seguida, com maestria, fortalece um dos pratos, diminuindo-lhe o peso, para, dessarte, restabelecer o estado de equivalência anterior — a igualdade no horizonte.
Com a espada empunhada para cima, imperando sobre os quatro pontos cardeais, impõe a cada um a força de sua decisão.
Equilíbrio, paz, harmonia e segurança, imediatamente, são sentidos por todos, a fim de que possam continuar trilhando o seu destino pessoal.
A Justiça agora conforta e se reconforta.
Ela não restabelece a situação anterior, pois não tem como fazê-lo.
Mas inibe, evita, alerta, ensina e induz as pessoas a se absterem de não repetir ato infame.
Dá segurança aos demais, sensação de que tanto eles quanto os seus não passarão por situação semelhante.
Enfim, agracia a todos com sensação de liberdade e conforto.
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